Monday, June 17, 2013

Rachaduras na Muralha Ideológica

Pois bem, meu povo, hoje, mais uma vez, estive nas ruas. Fiquei feliz ao me encontrar rodeada de milhares de pessoas – é até difícil ter noção da proporção do ato porque não dava para saber onde ele começava e onde terminava.

A polícia, desta vez, sabendo que era impossível conter e dispersar a massa populacional por meio de bombas de efeito moral sem causar uma tragédia (a correria inevitavelmente causaria a morte de dezenas de pessoas pisoteadas pela multidão), estava contida. Ainda assim, depois da experiência de ontem (relatada aqui: http://colacoloridaetesourasemponta.blogspot.com.br/2013/06/gigante-pela-propria-natureza.html ) fui com máscara banhada em vinagre, garrafa com água e bicarbonato de sódio, casaco, luva, a coisa toda. É triste ter que se proteger de forma tão intensa para exercer a sua cidadania.

A passeata, em si, foi pacífica e sem maiores problemas – quando eu estava indo embora, alguns manifestantes se dirigiram para a frente da alerj. Eu não estava lá, não vi o que aconteceu, mas, ouvi o som das bombas e vi algumas dezenas de pessoas correndo na direção contrária – mas, gostaria de comentar certos fatores que me entristecem.

A nossa luta é de todos. Desde aqueles que se declaram apolíticos e vão de branco, pedindo paz, aos partidos políticos que apoiam a causa. Nosso movimento engloba pacifistas e outros que são comumente taxados de vândalos, quando, nem ao menos, percebemos que vandalismo de verdade é aquele que o governo nos promove. Não estou aqui para defender nem partidos nem pessoas que se manifestam de forma agressiva. Também não quero depreciar os apolíticos. Eu, particularmente, me considero politizada e acredito na resistência pacífica, mas, também não acho que não tomaria uma postura mais agressiva para defender os meus direitos e os meus ideais, mas, este não é o foco da coisa.

O foco é que, em uma passeata imensa – e que tem força por o ser assim – e plural, os manifestantes me pareceram muito pouco tolerantes com aqueles que não comungam exatamente das mesmas ideias que eles. Em certo momento, parte das pessoas gritavam “sem partido” ou “oportunista” para os grupos que carregavam bandeiras de partidos políticos que os representavam; na internet, vi posts de ódio àqueles taxados de vândalos, com pessoas alegando que este tipo de pessoa deveria ser pega pelos próprios manifestantes e entregue à polícia.

Estas disputas internas tiram o foco da luta e esvaziam o movimento; o moralismo que faz com que alguns achem sua forma de protesto mais legítima que aquelas que transgredem as leis é a base do argumento direitista para enfraquecer uma luta que está sendo tão bela.

Não se engane: a direita está querendo se apropriar do nosso movimento e neste processo, usa de padrões morais sedimentados em nossa sociedade para causar rachaduras em nossa muralha ideológica. Eles querem enfraquecer e esvaziar as nossas manifestações.
Companheiros, lembrem-se que, quando estamos nas ruas, estamos unidos em um mesmo propósito: se você não gosta de depredação de patrimônio, vá embora mais cedo, não há mal nenhum nisso – eu mesma o fiz, sabendo que as pessoas mais extremadas ficam até mais tarde e que é normalmente aí que ocorre a confusão com a polícia. Se você acha que os partidos estão se aproveitando das manifestações, não vote neles, simples assim. E se você não quer ser confundido com alguma pessoa que transgrede as leis, use uma camisa escrito “sem violência”. O que nós não podemos é estarmos juntos apontando para os outros e dizendo que e eles estão errados e que não te representam. Todos somos necessários para engrossar as fileiras de nossas manifestações. Estamos crescendo, estamos nos fortalecendo. Não deixe que diferenças na forma de agir nos desarticule.


A direita se mantém unida para oprimir as minorias e isto só funciona porque as próprias minorias se veem heterogêneas demais para se apoiarem. Estou com todos vocês. E espero que a necessidade de nossa união para mudar o país supere estas diferenças. Juntos, podemos mudar o Brasil! Vem pra luta!

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