Monday, December 17, 2012

Fordismo



As pálpebras pesam algo além de sono. Olhos inchados, olheiras, frustação. Engraçado como toda maravilha tem algo de tumba; como cada glória carrega um pesar imenso.

Pareço não existir para desfrutar do que produzo. Acho que deve ser o que se sente ao se saber adulto, afinal.

Penso em tatuagens e brinquedinhos sexuais, mas colho conta de luz, condomínio e internet. É aí que vejo como a segunda faculdade é mesmo diversão: os trabalhos me apunhalam, mas, me fazem sorrir. É feliz poder me saber algo além daquela mecânica fordista para a qual entrego um terço dos meus dias.

O mesmo, sinto ao parar na sala de aula: olho para as minhas crianças, carentes de tanta coisa, mas, abundantes em vivência e determinação. São todas fortes e me carregam com a intensidade dos seus sorrisos adversos.

Penso no deus que não sei se existe e choro pelas dúvidas que tenho da minha própria capacidade. Sofro pelo meu orgulho e, dele, arranco coragem para seguir em frente. Para dar mais passos no vazio. Para sentir o peso eterno das minhas pálpebras. E, no medo dos pesadelos dos meus dias, ainda dormir em paz.