As pálpebras pesam algo além de
sono. Olhos inchados, olheiras, frustação. Engraçado como toda maravilha tem
algo de tumba; como cada glória carrega um pesar imenso.
Pareço não existir para desfrutar
do que produzo. Acho que deve ser o que se sente ao se saber adulto, afinal.
Penso em tatuagens e
brinquedinhos sexuais, mas colho conta de luz, condomínio e internet. É aí que
vejo como a segunda faculdade é mesmo diversão: os trabalhos me apunhalam, mas,
me fazem sorrir. É feliz poder me saber algo além daquela mecânica fordista
para a qual entrego um terço dos meus dias.
O mesmo, sinto ao parar na sala
de aula: olho para as minhas crianças, carentes de tanta coisa, mas, abundantes
em vivência e determinação. São todas fortes e me carregam com a intensidade
dos seus sorrisos adversos.
Penso no deus que não sei se
existe e choro pelas dúvidas que tenho da minha própria capacidade. Sofro pelo
meu orgulho e, dele, arranco coragem para seguir em frente. Para dar mais
passos no vazio. Para sentir o peso eterno das minhas pálpebras. E, no medo dos
pesadelos dos meus dias, ainda dormir em paz.