Monday, March 26, 2012

Machismo às avessas


_ Você, quase sempre, escreve sobre ou como mulheres. E, quando os homens aparecem, eles costumam ser criaturas de qualidades negativas. Por que desse seu desprezo pelos homens?


_ Eu não odeio ou desprezo os homens. Conheço umas boas exceções à regra que as mulheres criam enquanto educam seus filhos. O problema é que eles são mais príncipes encantados que propriamente humanos. É que esta realeza das exceções destoa da minha narrativa crua: do agrupamento de pecados, falhas e erros que eu tanto gosto de documentar. Narrar à vida destes homens é escrever uma Odisseia moderna; é reviver os contos medievais ou, o pior, aprisionar a princesa na torre do castelo em busca de salvação. Eu prego o direito de cada princesa encarar os próprios dragões e descer as escadarias sozinhas. Pensando nisso, talvez, um dia, eu escreva um conto em que o bravo cavaleiro errante apareça em seu cavalo branco para aplaudir a princesa que ergue a cabeça do dragão, arrancada com o seu próprio esforço. Mas, até os homens perceberem que não precisam habitar entre os extremos de herói ou vilão, continuo entendendo um príncipe descartável (porque a mulher deve e pode salvar-se) e continuo percebendo madrastas malignas e pobres serviçais que, se não são os responsáveis pelos nossos tormentos, limitam-se a alimentá-los.