Monday, April 11, 2011

Fairy Tale

Lívia rastejava feito um verme. Decomposição de si própria. A língua estava enrolada na boca: tentava pensar, mas não sabia; Tentava falar e grunhia. Se locomovia de quatro, de um lado para o outro, porque não sabia como ficar de pé. Doía estar viva e ela anestesiava as dores com álcool e cortes. Cigarros. Engraçado ninguém ver o quanto um alguém é perturbado; Como o mundo se esforça para acreditar em sorrisos falsos. Quanto mais invisível ela se sentia, mais mergulhava em uma piscina de loucuras. Ela preenchia o vazio de sua alma com qualquer merda que a fizesse se sentir viva.

Ela era uma criança, quando perdeu a virgindade. E, com um cara seis anos mais velho que ela. Um cara que poderia ser qualquer outro. Lívia sentia o membro rijo lhe rompendo a pele. Letárgica. Sua vida era uma letargia eterna; Era a busca por alucinógenos e dor. Lívia não sabia sorrir. E esperava a poesia decadente dos contos de fada do “roque enrrow”, em que o príncipe encantado era alguém que a encontraria na sarjeta e a daria um motivo para viver. Ele a amaria, apesar de tudo, não a mandaria parar com seus vícios. O amor lhe faria ser alguém normal.

Lívia desprezava a normalidade, mas gostaria de se sentir assim, sem esse impulso suicida que regia todas as suas ações. Ela era a própria confusão, como se vozes invisíveis gritassem em sua cabeça. Vozes que discordavam em tudo e a deixavam cair em uma contradição eterna: bissexual homofóbica; bêbada careta; puta romântica.

Olhos caídos e vazios. O cigarro queimando entre os dedos. Lívia descobriu ter dependência física do álcool, ainda com dezesseis anos. Dois meses de tremedeira, suor frio, vômito e diarréia para fazer aquela jura sincera de todo alcoólatra (que passa a ser piada no dia seguinte). E Lívia parou de beber. Trocou o álcool por sexo. Depois, sexo por drogas; Drogas por álcool; Álcool por sexo e drogas..., por mais de seis anos da sua vida.

Lívia não entende a depressão que tinha, no início de tudo. O que a fazia tentar voar ao pular na beira do abismo. Ela entende um mundo muito mais cruel do que antes. Um mundo que estupra criancinhas e assassina inocência. Mas, respira. Lívia não encontrou príncipe, juízo ou paz. Nem sanidade. As vozes ainda estão lá. E as drogas e o álcool e o sexo. Lívia não mudou, apenas compreendeu. Não sente mais aquela azia que era uma bola de ódio. E respira.

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