Thursday, April 21, 2011

Em Casa

No silêncio do mundo, ela encontrou palavras, riscos e rabiscos. Era para afogar mágoas e enterrar amarguras que escrevia; que desenhava. Não havia senso estético, só ódio vomitado na indiferença do universo.

Era encarada na rua e, ainda assim, não era percebida. Ponto de referência invisível.

Abria o caderno, alisava a folha em branco e derramava palavras em tinta negra. Violentava a pureza das pautas com garranchos de desgosto e desamor. Desacreditava do mundo e dos seres humanos. Detestava a si própria, mas amava sua forma de odiar.

O mundo muda e suas palavras foram perdendo o desprezo. Quando deu por si, o ódio já não estava ali. Era amor às flores, à morte, aos corações partidos. Suspirou. Era outra. A caneta não se movia por um demônio interno, mas por paz, desejo e uma loucura sã que a fazia querer entender o abstrato.

E entendeu que a caneta transformou ódio em liberdade. Brincando de Deus, em contos e poemas, encontrou o seu lugar: dentro de si mesma, estava em casa.

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