Thursday, March 31, 2011

Você e Eu

_ E se estivesse?
_ Não estou.
_ Mas...
_ Não sei. Não sei se me agarraria com mais força ao que tenho, só sei que este tempo interminável me gera dúvidas.
_ Sobre o sentimento?
_ Sobre mim. Sobre o mundo; Sobre o que roda, sem ser a minha cabeça. Eu sinto uma falta enorme, só não sei se é uma falta verdadeira ou da posse.
_ E a tristeza que eu sinto? E a dor que me desfigura o peito?
_ Não sei... A calda de menta está sendo derramada sobre o sorvete de chocolate com pedaços de crocante. Eu salivo, não sei se mordo.
_ E se morder? Não se preocupa com o seu lado que sou eu?
_ Se eu morder, serei, apenas, isca. E isca para peixe bem maior...

(L, J em 2005)

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Wednesday, March 30, 2011

Sanidade Maquiada em Loucura

Elefantes no outono de céu avermelhado. Dores de corpo fragmentando dores de alma. Corações despedaçados. Balas de prata naufragando em oceanos de areia. Sanidade maquiada em loucura. Sexo disfarçado em inocência.

Pecados. Me mostre os seus pecados. Santifique a minha alma. Piscinas de álcool abraçando o meu corpo. Espingarda nas mãos. O sangue colore o céu. O azul, de púrpura e laranja, está vermelho. O sangue no meu corpo. Por dentro, por fora. Gerando dúvida enqunto se mistura em minha alma.

As armas são sorrisos. As lágrimas, escudos de vidro. Não há “porquês”. Nada há de existir. Mundo metafórico. Pedaços de sofrimento enraizados no solo da minha loucura. As vozes gritam por dentro de mim. Você consegue ouvir a minha agonia?

Presente de deus. Alma nobre, coração impuro. Não há água que me limpe. Não há pétalas em minhas flores. Jardim descampado. Grades, cerca, arame farpado. Tudo me separa da felicidade. Os céus se abrem nos raios do sol. As nuvens me ofuscam. Não há convite. Não há mais nada, aqui, pra mim.

As chamas dançam. Me seduzem em seu altar. A bruxa se encaminha para a fogueira. Eu sou a bruxa. O fogo arde do ódio. Do meu e do seu. Me deixe esquecer que estou viva. Me deixe ser, apenas, pecado: limpo, puro, cruel...

Sunday, March 27, 2011

Solidão


Estou sufocando neste furacão de palavras bonitas. A Solidão está nua e me convidando para deitar em meu colchão. Ela quer fazer amor comigo. Ela quer que eu desista do mundo por si. E eu ainda não sei se me rendo aos seus encantos.

Posso buscar luxúria ou um novo amor, mas a Solidão é uma amante sádica. Quer me amarrar na cama e açoitar meu corpo. Ela quer me dominar, me submeter. Humilhar o que ainda pulsa no meu peito. Convite tentador.

Ela conhece as minhas cicatrizes e entende as minhas tristezas. Há quem diga que ela me completa.

Eu só não sei como abafar essas palavras que moram dentro de mim. Fazê-las parar de ecoar na minha alma. No fim das contas, desejo procurar cores, carinho, conforto, sossego. E amor.


Wednesday, March 23, 2011

Dicknail

Vômito é poesia? Lágrimas que transformam o universo num borrão. Você se sufoca num mix de sensações pelas quais jamais deveria ter passado. E guarda segredo. Porque, no fim das contas, ninguém quer ser um brinquedo quebrado. Então colamos os cacos da bonequinha de porcelana, a repintamos, trocamos a sua roupa. E fica tudo lindo, não? Ninguém desconfia do quão fodido você sempre esteve.

Depressão é poesia? Não saber levantar da cama, não conseguir se olhar no espelho. Ter nojo de si mesma. Pensar no quão vil alguém te tornou. E é como se você não tivesse sentimentos, você se torna menos humana. E você reza para que ninguém nunca ache os remendos do seu ser, porque dói demais falar. E, ao mesmo tempo em que, você quer que as lembranças morram, algo em si diz que, no momento em que você achar que nada aconteceu, você estará vulnerável para que aconteça outra vez.

Paranóia é poesia? Pensar que a culpa é sua: Foi aquela roupa? Ou porque eu fumo e bebo? Porque eu falo palavrão? Ou porque eu disse não e ninguém gosta de um não como resposta? E tocam o mundo que arde e você se sente rato de laboratório: exames, exames, exames. Os meses passam e você ainda tem que fazer exames. E reza, mesmo tendo perdido a fé em Deus, para não estar carregando cacos de porcelana no ventre. Pra você não ter que fazer a escolha de tentar amar o que te fez esquecer como se ama.

Aberrações são poesia? Porque é nisso que nos transformam: a bonequinha Frankstéin. Todas as cicatrizes e remendos zombam de nós. Todo santo dia. E você tenta não culpar ninguém para não ser uma vítima eterna. Mas como se entrega a alma se, dela, só existem pedaços?

 

Wednesday, March 16, 2011

Dois mais Dois

Eu quero que você entenda que eu nunca quis ter essa alma atormentada. Eu queria que as coisas fossem simples, mas foram me complicando. Eu era um dois mais dois que dava quatro, mas, de alguma forma, virei dízima periódica. Ou um Pi.

Você pode me dizer o que eu posso fazer pra voltar a ser aquela combinação de coisas bonitas que eu era? É que eu tive que amadurecer cedo demais e acho que apodreci no pé, antes de alguém poder me colher. Me ensina a ser Benjamin Button?

Vê se você consegue me rebobinar? Sim, sim, rebobinar para uma época muito anterior aos CDs e DVDs. Queria me assistir vivendo e me impedir de fazer as escolhas erradas. Pra ver se conseguiria ser inocente outra vez. E doce. Sinto falta de saber me entregar; De confiar por inteiro.

Eu nunca quis me tornar o que sou, mas, aqui estou. E, quem sabe, essa vontade louca de me tornar algo melhor dê algum resultado. E eu encontre o caminho para fora da jaula dos meus vícios. Porque "liberdade é a liberdade de dizer qye dois e dois são quatro".

Sem Título

"O sexo é muito mais puro que o amor, não é algo premeditado. É atração, imantação. Você não pensa. O pensamento estraga a pureza das coisas. O amor é feio; É sujo; Amargo. O sexo é doce e inocente. É a animalização do ser racional. Trepar, portanto, é estar perto de Deus."

(L,J em 2004)

Monday, March 7, 2011

Carnaval


O metrô era batucada. De Vicente de Carvalho à General Osório. Ela carregava uma garrafa de meio litro: Um oitavo de vodca completado com refrigerante. O fone de ouvido ocultava o samba alegre que os foliões berravam, em uma mistura de cores e alegria. Os olhos fechados e os lábios se movendo sem fazer som, acompanhando a melodia, ora triste, ora furiosa, do grunge que lhe enchia os ouvidos e coração de algo mais doce que o mundo.

Desceu da estação, ligou para os amigos. Ninguém havia chegado. Uma, duas, três latas de cerveja, até alguém aparecer. E, mais e mais pessoas surgiam. Sorria. Olhava para o suor e as roupas curtas, mas a noite não era fria, em meio aos pingos da chuva.

Lábios e saliva. E sorrisos. No fim das contas, ela havia encontrado algo para lhe distrair da melancolia carnavalesca. Sorriu e avisou que voltava logo. Ia para o banheiro químico.

E, no caminho, algo aconteceu. E ela só se viu levantando do chão. O sangue se misturava com a água da chuva.

_ Você tá bem?

_ Foi só o susto.

_ Cara, você tá sangrando. Você tá sangrando muito. – E a tiraram dali. A blusa branca já era vermelha. A sentaram no meio-fio; Ligaram para a ambulância. Nenhuma resposta. Ligaram para os amigos dela, enquanto a perguntavam o nome, a idade e qualquer outra baboseira para terem a certeza de que ela estava consciente. Jogaram água em sua cabeça, de onde brotava o sangue. E, os desconhecidos-anjos-da-guarda ficaram por lá, até os amigos da menina chegarem.

Eles já a levantaram do meio-fio e a fizeram atravessar a rua. Perguntavam coisas e ela respondia. Taxi. Hospital público. Neurologista, tomografia, sutura. Três pontos. Ou reticências, como ela prefere pensar. Sua cabeça sempre foi um lugar confuso. Reticências combinam muito bem com essa loucura sã que ela aprisiona em si. Antitetânica e alta. Taxi e casa de um dos amigos para amanhecer com as dores da anestesia que já não estava mais lá e encarar a ressaca moral de ligar para a mãe.


Não chore, baby. Foi só o susto.

Tuesday, March 1, 2011

011-14-06

Não me telefone. Eu não quero ouvir a sua voz. Não quero que você me diga que gostou de me conhecer; não quero que me chame para sair. 

Não, não me telefone. Não quero te encontrar pra uma cerveja e descobrir que temos o mundo em comum. Não quero perceber que você é exatamente tudo o que eu esperei toda a minha vida. Eu desisto de todos os momentos de felicidade que poderíamos ter; Dos nossos filhos e netos; Das nossas rugas surgindo e crescendo juntas, enquanto tudo que sentimos amadurece.

Eu não quero lembrar o seu nome. Não quero fazer planos. Não quero ter medo de te ver partir (o meu coração). Não quero te fazer chorar, nem que de alegria. Não quero ter que sentir.

Eu desisto dos gestos românticos que planejei a vida toda. Não quero colocar letra naquela balada que eu fiz. Não quero te desenhar usando, apenas, o coração do oceano. 

Não me telefone. Não quero ver toda essa eternidade se dissipar em sexo barato; Em promessas vazias. Não quero que você minta, assim como eu não quero mentir. Deixemos de lado a construção deste castelo de cartas. O ébrio nos permite essas verdades: queremos a mesma coisa. E agora. 

E eu vou te dar o meu número, no fim de tudo, mas, não, não... Não me telefone.