Saturday, February 26, 2011

Números e Letras

O cano da arma fervia em direção ao rapaz. E ele entregou o cordão, a carteira e o celular. O Punho girou a arma em direção ao outro homem, que lhe entregou o telefone, a câmera e a carteira. Eu estava parada. As mãos para o alto, esperando o tiro, fosse ele para quem fosse. Ou para todos nós. Eu esperava e assistia novela, como se nada, nunca, fosse acontecer comigo, mas a arma se voltou para mim.

_ Passa o celular. – Eu mexi nos bolsos de trás, esperando encontrar a chave de casa e alguns trocados. Não, eu não havia deixado o telefone na mesa do bar.

_Cara, só tenho a chave de casa. – Mostrei o chaveiro, com a alma tremendo. O medo absurdo de descobrirem o celular no meu outro bolso, mas o rapaz apenas voltou para o banco do carona do carro, que partiu.

E eu tentei me esconder no esgoto de mim mesma; Me teletransportar, mas não deu.  E eu voltei pro bar, pra tomar uma cerveja, fumar um cigarro ou procurar conforto em quem eu sabia que poderia me dar. Tanto faz.

Tremi, tremi e tremi um pouco mais.

Só não entendo se foi a necessidade de ser malandra e “inassaltável” ou um impulso suicida que me fez mentir. Não existe opção que seja o plano, mesmo que se planeje uma possível morte.

Números e letras. Agenda. E alguns “dinheiros” convertidos em créditos. No fim das contas, era isso: Trocaria a minha vida por números e letras.

Wednesday, February 23, 2011

Comfortably Numb


Aceito anestesia. 



Ou cortes. Ou álcool. Ou drogas. Ou sexo. 

Deixe a minha alma dormente. E, não, não..., não me acorde com queimaduras de cigarros. Não venha me provar que o meu corpo apodreceu; Que os anos se passaram. Não me venha com essa de que as feridas estão abertas. Não, não..., eu já não sinto.

Não sinto minha alma necrosada. Está tudo bem. E, pare de contar histórias sobre vermes procurando espaços no meu corpo. O mundo é lindo, perdido num sorriso débil. E eu sei que ainda tenho todos os dentes na boca. O conforto, encontro nas mentiras que conto pra mim. A paz, num despertar que nunca chega.

O que era angustia, agora, são só cores; Um astronauta flutuando na lua cheia. E eu quero mais de qualquer coisa que me mantenha no vazio, mas, se for amputar algo, leve esse maldito coração.

Até lá, aceito mais anestesia.

Tuesday, February 22, 2011

"Poizé"

Pois, Zé, você não sabe da maior:
O mundo tá ficando são
E eu que não sabia das tragédias
Tão bonitas, que explodem na televisão
Pensei que não.

Pois, Zé, você não sabe da maior:
A embrulharam em papel de pão
E todos, juntos, deliravam pela moça
Ao dedilhar de um violão.

Pois, Zé, é que é triste ser sempre feliz
E eu me divirto assistindo os erros
Das linhas tortas
De um tal de...

Zé, que tal a vida, assim, como ela é?
Tanta desgraça pra aplaudir de pé
E você sorrindo
Rindo de nós.

Pois, Zé, você não sabe da maior:
Tô me afogando nesse copo d’água
E eu prometi calçar a minha estrada
Com coisas lindas,
Não, com pedrinhas de solidão.

(L,J entre 2006 e 2007)

Buquê de Flores


Comprei um buquê de flores sortidas. Rosas, Lírios, violetas; Brancas, amarelas, vermelhas. Um arco-íris de pétalas; Um carnaval de formatos e tamanhos.

E tudo o que era bonito valsava alegremente.
E o ar cantava uma canção que embalava o mundo.
E nada era mentira, mas a superfície era toda a profundidade.

Comprei um buquê de flores sortidas. E observei as cores desbotarem, as pétalas cairem, o aroma apodrecer. E a magia virou tormento, como aquela velha história de eu e você.

Thursday, February 17, 2011

Nomes e Etiquetas


_ Então, dá pra me desamar?
_ Como?
_ Sabe quando eu disse que te amava? Era mentira.
_ Que tipo de filha da puta diz isso?
_ O tipo que acreditava nas mentiras que contava; Que não entendia o peso das palavras.
_ ...
_ Nomes e etiquetas. É assim. A gente precisa que seja assim. O que você é; O que você veste; O que você ouve. Por quem se apaixona. Tudo classificado bonitinho. O que você sente? Como se etiqueta o abstrato? Qual o peso das palavras? Amor, amizade, raiva, ódio. Palavras são promessas e, ainda assim, apenas palavras. E dá pra desamar? Ou o “eu te amo” é uma promessa eterna?
_ Você partiu o meu coração.
_ Eu juro que gostaria de dizer a mesma coisa.
_ Quê?
_ Seria a prova de que ainda existe algo para nós. Mas não dá, não existe.
_ Eu vou embora.
_ Eu não me importo.

Wednesday, February 9, 2011

Big Girls Don't Cry

Procuro o silêncio, porque respostas não são apenas palavras. Procuro ausência e solidão. Procuro a minha essência perdida; Tudo o que deixei apodrecer por ser bonito demais. Procuro motivos para me perder em uma gargalhada verdadeira, daquelas tão demoradas que a gente esquece qual foi o motivo. Procuro sono, em um sossego interno, que me permita descansar em paz.

Procuro com o desespero de quem espera. E espero com a calma dos imortais.

Espero que passe essa necessidade de mais bebida e mais cigarro; Esse desejo por carinho e amor. Espero que a esperança se dilua, para só existir razão em minha vida; Para aprender a perder os cabelos e esquecer de perder o juízo.

Espero achar o que procuro, mergulhando no que não sou mais e fugindo do que me tornei. Espero encontrar calma e perdão enterrados nas minhas feridas abertas.


E rezo para não machucá-los no meu exílio, porque já não me encontro na grandiosidade de mim mesma. Suas vozes me guiam, mas tenho que achar o caminho, de volta, sozinha.


Monday, February 7, 2011

Conversa de Bar


_ Você sempre disse que a egoísta era eu.
_ E era, pelo menos, pra mim.
_ Mas, você não disse que, agora, entende e, de certa forma, pensa igual?
_ Uma coisa não exclui a outra. Eu te entendia egoísta porque eu pensava não pensar só em mim quando, na verdade, me isolava em sensações instantâneas. O meu “sentir” regia o mundo, mesmo sem saber se o que eu “sentia” era verdade.
_ Então você não sentiu?
_ Não naquela proporção avassaladora. E só pude perceber isso, por esses dias.
_ E, como foi isso?
_ Estou me redescobrindo; Procurando verdades por trás dessas máscaras com teia de aranha. Na busca do que sou, percebi que só posso me descobrir, enquanto me amo. E esse auto-amor é o mais difícil.
_ Os espelhos estão em toda parte.
_ Sim, e os defeitos na nossa imagem são os que mais incomodam. Foi aí que percebi. E o meu respeito por você cresceu de uma forma absurda.
_ E, o quê você percebeu?
_ Que você não estava brincando comigo, como eu pensava. Estava vivendo, fazendo o que te fazia feliz e pensando em quem, em toda e qualquer circunstância, deve ser sua prioridade.
_ Você sempre sentiu demais.
_ Não. Eu inventava coisas pra me distrair do que importa; Das minhas metas; Do meu caminho.
_ E, agora?
_ Agora é simples: Me amar primeiro, manter os olhos no alvo...
_ E seguir em frente.
_ Não disse que entendi?


Um brinde a você.

Pretérito Imperfeito

Ora o silêncio, ora o deboche. E os gritos do rock n'roll acentuando aquilo que já era tristeza; Transformando o puro em pecado. Esculpindo e lapidando ódio em pedra bruta...

“(...)
Quero ser impura
Doce e verdadeira
Quero ser capaz.

Quero ser adestrada
(...)
Quero a ilegalidade das drogas
Do amor.

Jesus, quero esquecer teu rosto
Sentir o desejo molhar meu corpo
Me afundar nas delícias dos pecados.

Quero deixar de ser gente
E virar prazer
(...)

Quero ser o cometa de sangue
Que pulsa no teu peito."

(abril/2003)

...Maculara a virgem com toques de desgosto; Transformara nojo em afrodisíaco.